Esta fortaleza urartiana junta-se às outras já encontradas na Turquia. Um exemplo impressionante da arte da engenharia militar da antiga civilização de Urartu.
Às vezes, a história pode ser reconstruída a partir de evidências muito pequenas, como um dente, uma moeda ou restos orgânicos. Noutros casos, porém, a grandiosidade da descoberta é suficiente para mudar o curso da história. Foi o que aconteceu com a monumental fortaleza da antiga civilização de Urartu, que um grupo de arqueólogos descobriu nas remotas montanhas do planalto de Tirishin, na região de Gürpinar (província de Van, Turquia Oriental). A construção, localizada a cerca de 3.000 metros acima do nível do mar, é um exemplo notável da engenharia militar da antiguidade. Esta nova descoberta não só amplia o nosso conhecimento sobre o poder e a influência de Urartu, mas também fornece novas informações sobre como esta cultura utilizava o relevo extremo para construir e defender os seus povoados fortificados.
Paisagem de alta montanha
O planalto de Tirishin é uma vasta planície cercada por altas montanhas e gargantas profundas. O clima é rigoroso no inverno. Nevas frequentes impedem o acesso. Por isso, a localização da fortaleza a 3000 metros acima do nível do mar explica-se por razões estratégicas: foi construída para controlar visualmente o território e as vias de passagem. Das suas muralhas, abre-se uma panorâmica de muitos quilómetros, o que dava uma vantagem defensiva, permitindo detectar qualquer movimento invulgar num vasto território.
Até hoje, o acesso à fortaleza é difícil. Os arqueólogos levaram duas horas para subir da aldeia de Beshbudak até as escavações arqueológicas, seguindo trilhas nas montanhas. Assim, o difícil acesso à cidadela foi provavelmente um dos principais fatores que contribuíram para a defesa da fortaleza.
A descoberta da cidadela
A fortaleza foi descoberta durante investigação arqueológica conduzida pelo professor Rafet Çavuşoğlu, da Universidade Van Yüzüncü Yıl, com o apoio do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia. Uma equipa composta por vários especialistas investigou sistematicamente o planalto em busca de vestígios arquitetónicos, objetos e estruturas relacionadas.
Segundo os especialistas, esta é uma das maiores e mais bem preservadas fortalezas descobertas até hoje na região. As dimensões e a complexidade do complexo, bem como o seu excelente estado de conservação, tornam este local um importante objeto de estudo da arquitetura de Urartu.
Arquitetura monumental em altura
A fortaleza inclui cerca de 50 salas. Localizadas em diferentes zonas, estas numerosas salas permitem supor que a fortaleza combinava funções militares, administrativas e residenciais. As paredes, construídas com blocos de basalto de origem local, estendem-se por cerca de 4 quilómetros, formando um impressionante perímetro defensivo.
No interior, destaca-se a cidadela, que poderia ter servido como centro administrativo ou zona residencial da elite militar. Segundo os estudiosos, este espaço, situado numa elevação no interior da própria fortaleza, servia para coordenar as atividades e reforçar as relações de poder e subordinação dentro da estrutura.
Materiais e técnicas de construção
O uso do basalto como material de construção é explicado tanto pela sua abundância na região quanto pela sua resistência. As paredes têm uma construção precisa, típica das construções urartianas, o que contribuiu para a sua resistência a terremotos e condições climáticas extremas. A combinação de resistência e design atesta o alto nível de conhecimento técnico e o uso racional dos recursos locais.
Além disso, a fortaleza inclui instalações que aparentemente serviam como armazéns ou oficinas. Todas essas evidências confirmam que se tratava de um complexo centro operacional com inúmeras funções.
Achados materiais na fortaleza
Durante os trabalhos de exploração, foram encontrados fragmentos de cerâmica urartiana com ornamentos, que permitiram datar o monumento arqueológico da Idade do Ferro. Também foram encontrados moinhos de pedra, bem como objetos de pedra com símbolos, que podem ser marcas de propriedade, inscrições ou elementos religiosos. Esses achados sugerem que a fortaleza não era apenas um centro militar, mas também industrial.
Fortaleza construída para uso prolongado
A equipa de arqueólogos também encontrou evidências de que a fortaleza foi usada desde a Idade do Ferro até a Idade Média. Os dispositivos visíveis e os trabalhos de reparação em algumas partes da muralha confirmam essa hipótese. Esta ocupação prolongada deve-se principalmente à localização elevada e fortificada da fortaleza. Esta posição servia provavelmente tanto para controlar as rotas comerciais como para proteger os recursos pastorais. Na Idade Média, o seu valor defensivo terá provavelmente aumentado devido a conflitos regionais.
Urartu e o seu legado
A civilização de Urartu, que prosperou entre os séculos IX e VI a.C., controlava um vasto território que abrangia partes da atual Turquia, Arménia e Irão.
A sua arquitetura defensiva, caracterizada pela construção de fortificações inexpugnáveis em pontos estratégicos, refletia tanto o seu potencial militar como a sua organização centralizada.
A fortaleza de Tirishin encaixa-se perfeitamente neste modelo, mas a sua localização num contexto particularmente complexo, bem como o número de instalações identificadas, colocam-na entre as descobertas mais significativas das últimas décadas. Esta descoberta oferece uma oportunidade única para estudar a logística e as estratégias de defesa em condições de alta montanha.
Desafios e perspetivas
A equipa de escavações conseguiu confirmar que o acesso ao local das escavações, embora difícil, é possível nos meses mais quentes do ano. No entanto, as condições meteorológicas desfavoráveis limitam o tempo disponível para a realização de trabalhos arqueológicos.
No futuro, planeiam-se escavações mais profundas, que permitirão determinar com precisão a disposição interna, os sistemas de acesso e a possível finalidade ritual de algumas instalações. A análise dos vestígios cerâmicos e de pedra, por outro lado, permitirá precisar a cronologia das diferentes fases de ocupação.
Urartu, civilização das fortalezas
A descoberta da fortaleza urartiana no planalto de Tirishin confirma que a antiga civilização conseguiu utilizar condições extremas para construir estruturas resistentes. A sua muralha de quatro quilómetros, cinquenta instalações e longo povoamento ao longo dos séculos tornam-na um enclave excecional, tanto pela sua dimensão como pela complexidade da sua construção e manutenção. À medida que as investigações avançam, esta fortaleza revelará mais informações sobre a história de Urartu e a interação entre a paisagem, a arquitetura e o poder.