As autoridades asiáticas recorreram a um plano invulgar para conter a epidemia viral: libertar insetos criados em laboratório.
Atualmente, a China está a passar por um surto de chikungunya, que já afetou mais de 7000 pessoas na província de Guangdong. O vírus, transmitido por mosquitos do género Aedes, obrigou as autoridades a tomar medidas extremas, que lembram os momentos mais difíceis da pandemia: pulverização massiva de inseticidas, isolamento rápido em quarentena e até mesmo o uso de drones para monitorar a propagação. O governo chegou a recorrer à libertação de outros insetos e peixes que se alimentam de mosquitos para interromper a transmissão do vírus.
A febre chikungunya não é um fenómeno novo no mundo, mas, neste caso, o que preocupa é a escala e a velocidade da sua propagação. Em apenas uma semana, foram registados mais de 3000 novos casos da doença, num contexto de chuvas e inundações que criaram condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos infectados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para a possibilidade de repetição, este ano, do cenário de 2025, quando a doença atingiu 16 países, com 240 000 casos. O mosquito tigre, cada vez mais presente na Europa, é o principal suspeito da propagação do vírus.
Em Portugal, este inseto está presente há mais de duas décadas. Suas mordidas não são apenas irritantes: elas também podem transmitir dengue, Zika ou febre amarela.
Paradoxalmente, tanto na China como em Portugal, a solução para o problema é libertar ainda mais mosquitos nas ruas. Na província de Guangdong, foram libertados indivíduos que se alimentam de mosquitos pequenos, com o objetivo de controlar a população infetada. As autoridades municipais optaram por outro método: libertar 2,4 milhões de mosquitos estéreis entre 2025 e 2026. O objetivo é que esses machos, incapazes de se reproduzir, acasalem com fêmeas selvagens e os seus ovos sejam inviáveis.

Esta estratégia tem o nome de técnica de insetos estéreis (TIE). Já é utilizada em países como Singapura e Austrália para combater pragas e doenças transmitidas por insetos. Embora possa parecer estranho, os testes mostram que ela pode reduzir a população de mosquitos na área tratada em até 80%. Na Comunidade Portuguesa, em 2023, já foram libertados milhões de indivíduos no âmbito de projetos-piloto.
As razões são óbvias: as alterações climáticas e a urbanização contribuem para a propagação dos mosquitos. Áreas onde antes não conseguiam sobreviver oferecem agora condições ideais para a reprodução.