Esse comportamento, como explica o psicólogo, pode causar grandes danos a uma pessoa que não é capaz de estabelecer limites e sempre cede. A boa notícia é que isso pode ser mudado, pois não é uma qualidade inata, mas adquirida.
Em qualquer relacionamento, seja conjugal, de amizade ou familiar, a forma como nos comunicamos influencia profundamente a qualidade das relações. No entanto, nem todas as pessoas se expressam da mesma forma. Alguns tendem a dizer o que pensam, sem filtros, outros evitam conflitos a todo o custo. E estes últimos, que preferem ficar calados para evitar conflitos, constituem um perfil que a psicóloga Lara Ferreiro conhece muito bem. Por isso, ela explica-nos por que surge esse comportamento, quais são as suas consequências e, acima de tudo, como pode ser mudado.Recomendamos Hipoteca reversa em Espanha: como obter uma renda extra com a sua casa na aposentadoria Cuide do seu corpo após o verão: estas balanças inteligentes custam menos de 20 euros
Três estilos de comunicação: agressivo, submisso-passivo, assertivo
«Existem três estilos básicos de comunicação», explica Lara Ferreiro. «O primeiro é agressivo, representado pelos leões, pessoas que gostam de conflitos e dizem tudo o que pensam. O segundo é submisso-passivo, os ratos, que ficam calados ou dizem o que acham que o interlocutor quer ouvir. E, finalmente, os assertivos, os golfinhos, que não pisam em ninguém e não permitem que pisem neles.» Neste caso, estamos a falar dos «ratos», ou seja, das pessoas que, por várias razões, reprimem os seus sentimentos.
Por que algumas pessoas preferem ficar caladas
Por trás do silêncio esconde-se o medo. «Muitas pessoas têm medo de expressar os seus sentimentos por medo de rejeição ou abandono. Elas acreditam que, se ficarem caladas, não serão abandonadas. É uma estratégia inconsciente para manter os laços, mesmo que isso aconteça à custa do seu bem-estar», afirma o especialista.
Noutros casos, a razão está na infância. «Cresceram num ambiente onde havia gritos, separações, violência… e aprenderam que era melhor ficar em silêncio. Pode até ser um trauma intergeracional, quando mães ou avós submissas transmitiram esse padrão».
Muitas pessoas acham que ser bom é não reclamar, perdoar, tolerar. Mas não, ser bom não significa permitir que os outros o pisem
Às vezes, também se observa uma falta de habilidades comunicativas. «São pessoas que não sabem como abordar um assunto, e isso causa tanta ansiedade que preferem ficar caladas». Também é importante «o que vão dizer»: «Elas acham que, se disserem o que pensam, vão parecer mal-educadas, arrogantes… Essas crenças limitantes bloqueiam-nas».
Por outro lado, pode existir uma ideia errada de que ser «uma boa pessoa» significa ficar calado. «Muitas pessoas acreditam que ser uma boa pessoa é não reclamar, perdoar, tolerar. Mas não, ser uma boa pessoa não significa permitir que se aproveitem de si. Algumas pessoas acreditam que, se disserem o que pensam, serão egoístas, quando na verdade estão a proteger a sua saúde emocional».
Altamente sensíveis e ansiosos: aqueles que mais evitam conflitos
Segundo o especialista, existem pessoas que são particularmente sensíveis a conflitos, como HSP (pessoas altamente sensíveis). «O cérebro delas reage muito fortemente ao stress. Eu própria sou uma delas. Os conflitos causam-me tensão, embora eu tente dizer o que penso de forma suave.» Estudos realizados na Universidade de Harvard confirmam que essas pessoas tendem a evitar conflitos.
«Isso também é característico de pessoas com ansiedade social, transtornos de ansiedade não tratados ou que evitam o apego, que se distanciam emocionalmente para se proteger». Esse é um mecanismo de defesa observado tanto em homens quanto em mulheres, embora, segundo a especialista, os homens sejam mais propensos a evitar o apego.
Estudos realizados na Universidade de Harvard mostram que pessoas altamente sensíveis tendem a evitar conflitos porque o seu cérebro reage muito fortemente ao stress.
Aprendizagem desde a infância
Como explicou a especialista, o silêncio pode ser uma estratégia aprendida desde tenra idade. «Muitos deles vêm de famílias com tabus emocionais, onde não se falava sobre problemas. Ou tiveram pais autoritários ou ausentes. Tudo isso influencia muito». Ferreiro também menciona o «reforço do silêncio»: quando o silêncio permite evitar o conflito, o cérebro interpreta isso como uma estratégia eficaz.
Crianças cujas emoções não foram reconhecidas também tendem a esse comportamento. «Frases como “calado”, “não chora”, “isso é coisa de menina” ou “tu estás a exagerar” fazem a criança pensar que expressar os seus sentimentos é algo ruim».
Há outro tipo muito comum: as crianças «parentais», que tiveram de cuidar de pais com problemas emocionais. «Em vez de receberem cuidados, eram elas que os davam. Não podiam expressar emoções porque tinham de estar disponíveis para os adultos».
Consequências do silêncio excessivo
Independentemente da causa, o silêncio sistemático tem consequências devastadoras. «Em primeiro lugar, o acúmulo emocional. Tudo o que não é dito fica dentro e, em algum momento, explode. Isso pode levar a acessos de raiva, insônia, ansiedade…».
Também ocorre uma perda de identidade.
«Se está sempre em silêncio, está a renunciar a quem é. Perde a sua individualidade». Essa repressão emocional pode levar à somatização: «dores musculares, problemas digestivos, doenças psicossomáticas». E isso afeta os relacionamentos. «Eles tornam-se falsos, instáveis, até mesmo ofensivos.
Pessoas que não sabem estabelecer limites entram em relacionamentos em que só cedem, enquanto o outro impõe a sua vontade. Sentem culpa, ressentimento e a sua autoestima cai.»
Esse comportamento não é inato, mas adquirido. E essa é uma das razões mais frequentes para procurar um terapeuta. É possível trabalhar isso com terapia cognitivo-comportamental: mudando crenças limitantes, aumentando a autoestima, melhorando a inteligência emocional.
É possível mudar: a chave está na terapia
A boa notícia, segundo Lara Ferreiro, é que esse padrão pode ser mudado. «Não é algo inato, mas adquirido. E essa é uma das razões mais frequentes para procurar um terapeuta. É possível trabalhar com terapia cognitivo-comportamental: mudando crenças limitantes, aumentando a autoestima, melhorando a inteligência emocional».
A psicóloga acredita firmemente na assertividade. «É um treino. Aprender a dizer o que se pensa e estabelecer limites. Sou totalmente a favor disso. O respeito por si mesmo começa com a capacidade de dizer «não». E isso pode ser aprendido em poucas semanas».
Como ajudar uma pessoa que está sempre em silêncio?
As pessoas que rodeiam uma pessoa que está sempre em silêncio e cede também podem ajudá-la. Como? Criando espaços seguros onde essa pessoa possa falar. Confirme as suas emoções com frases como «eu entendo-te», faça perguntas abertas, sem pressionar.
Não fale por elas, mas acompanhe o seu processo. E dê o exemplo, mostrando como é possível estabelecer limites de forma saudável. Apoie cada progresso e seja paciente. As mudanças levam tempo.
O que pode fazer por si mesmo
Existem várias ferramentas que podem ajudá-lo a quebrar esse padrão:
- Comece uma terapia individual.
- Pratique a autoobservação e preste atenção à sua linguagem interna. Por exemplo, se alguém se intromete na fila do supermercado, em vez de pensar «eles já estão a rir de mim», pode dizer a si mesmo: «não faz mal, aos poucos vou estabelecer limites», e dizer: «desculpe, a fila é atrás».
- Aprenda a dizer «não» nas pequenas coisas. Substitua frases autocríticas por frases como «tenho o direito de dizer o que penso».
- Use técnicas como «disco riscado»: repita a mesma mensagem sem se justificar. Por exemplo: «Desculpe, não posso emprestar-lhe o carro».
- Use o WhatsApp para ganhar tempo. Se alguém lhe pedir algo que não pode dar, como emprestar dinheiro, responda mais tarde com uma mensagem clara: «Desculpe, não posso ajudá-lo». Assim, evitará concordar sob pressão no momento.
- Também pode usar este canal para expressar o que não disse pessoalmente: «Olha, o que disseste na frente de todos me magoou. Não gostaria que isso se repetisse».
Falar, segundo Ferreiro, é muito importante para a autoestima. Se não o faz, sente que estão a rir de si.

Se alguém se intromete na fila do supermercado, em vez de pensar «estão a rir de mim outra vez», pode dizer a si mesmo: «não faz nada, aos poucos vou estabelecer limites», e dizer: «desculpe, a fila é atrás».
Quando procurar ajuda profissional?
Quando sentir ansiedade, insónia, dor física sem motivo aparente. Se isolar-se da sociedade para evitar conflitos. Se culpar-se pelo que diz ou pelo que não diz. Se repete o mesmo padrão em todos os seus relacionamentos e se sente invisível ou maltratado. Quando há traumas não resolvidos ou explosões de raiva incontroláveis. Todos esses são sinais de que precisa de ajuda.